Especialista dá dicas para redação científica


especialistas da dicvas

Entrevistamos Gilson Luiz Volpato, biólogo licenciado, mestre e doutor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), docente, desde 1981, do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências de Botucatu da mesma instituição e pós-doutor do Institute of Animal Sciences de Israel, sobre o “Guia Prático para Redação Científica”, lançado por ele em agosto desse ano. A publicação pode contribuir bastante para o uso científico em diversas práticas, inclusive as relacionadas à tuberculose, desde TCC até a absorção de estilo científico para produções de artigos internacionais de alto nível. Além dos diversos passos para o aprimoramento de textos, contém 139 respostas detalhadas a perguntas frequentes quanto ao assunto da obra. O conteúdo do livro se aplica às Biológicas, Humanas e Exatas.

Autor de vários livros do gênero, Volpato faz pesquisas científicas na área de fisiologia e comportamento animal. Publicou dezenas de artigos em periódicos internacionais, entre os quais do grupo Nature. Ele criou e administra o site www.gilsonvolpato.com.br ou www.gilsonvolpato.com, no qual comenta fatos da atividade científica geral (ciência, redação, publicação, formação de cientistas, ética e sociedade). O site, em fase de total reorganização para janeiro de 2016, conta também com o Clube SOS Ciência, no qual Volpato possui praticamente 7.500 associados que costumam fazer perguntas para ele.

Fundação Ataulpho de Paiva (FAP) – Como surgiu a ideia de criação do guia?

Gilson Volpato – Na minha abordagem sobre a redação científica, eu insisto que os erros de construção do texto decorrem de duas naturezas: erros sobre ciência (metodologia, filosofia da ciência, lógica, epistemologia e ética) e erros sobre aspectos comunicacionais na ciência (as mudanças nesta área são imensas e rápidas, mas a maioria não acompanha e prepara artigos como se estivesse vivendo há dez ou 20 anos). Com essa abordagem, que é a base do meu método lógico desde o início de minha atividade nesta área no final da década de 1980, a tarefa consiste em melhor formar os pesquisadores, de forma que consigam resolver as dúvidas sobre redação científica, principalmente a estruturação interna do texto a partir da ciência e da comunicação que conhecem. O Método Lógico rechaça o uso de costumes para soluções na redação científica. Lógico que o público em geral prefere fórmulas mágicas, mas isso eu não dou, pois estaria bestificando ou mesmo coisificando esse público. Quando publiquei o “Método Lógico para Redação Científica”, em 2011, havia a percepção de que eu tinha um método coeso. Ele era mais conceitual, mas já visava dar uma diretriz mais sólida aos pesquisadores, sem cair nas ‘regrinhas’. Produto disso, transformei meu curso prático (ministro cursos práticos e teóricos) no sistema do Método Lógico. Criei uma rotina que me possibilitasse ampliar esse curso para um grande público (saí dos inevitáveis sete a dez alunos para atingir, neste novo formato, até mais de uma centena de pessoas, cada uma com seu manuscrito sendo corrigido num curso de dois dias). Essa rotina se tornou muito eficiente após os primeiros testes e correções. Embora seja uma rotina, ela exige do pesquisador que conheça bem a teoria (quanto mais ele conhece a teoria, melhor aproveita do curso – quem não sabe a teoria fica perdido no curso, que é o retrato de nossa realidade e a base do Método Lógico). Infelizmente, o brasileiro gosta de alguma fórmula mágica, um jeitinho que resolva as coisas que não foram devidamente tratadas no momento certo. É assim com tudo e também o é na redação científica.

FAP – Pode ser útil para a comunidade científica que atua contra a tuberculose?

Gilson Como trato de ciência, o livro será útil para qualquer comunidade que use o conhecimento científico como esteio para ações mais práticas. Assim, tenho certeza que é útil para a comunidade que atua contra a tuberculose. Se lermos um artigo equivocado e acreditarmos na conclusão, possivelmente proporemos ações equivocadas. Quem escreve bem um artigo tem também condições de melhor avaliar a qualidade da pesquisa que lê. Na leitura de um artigo há dois aspectos que devem ser considerados: a validade científica geral do texto e a validade dos detalhamentos da especialidade. A primeira pode ser avaliada por qualquer cientista de boa qualidade. Por exemplo, se há coerência lógica entre o objetivo proposto, o delineamento do estudo e as conclusões apresentadas. A segunda só pode ser avaliada por quem trabalha na área do texto que lê. Assim, para quem não é da área específica da revista, esta segunda análise é deslocada para a qualidade da revista (melhor a revista, melhor o nível dos profissionais que avaliaram o artigo antes da publicação). De outro lado, o livro ajuda também na própria confecção dos artigos numa especialidade (no caso, a tuberculose). A falta de composição de um texto de boa qualidade pode impedir que uma ciência de bom nível seja divulgada nos veículos corretos, naqueles de maior infiltração na ciência internacional de bom nível.

 FAP – Como foi desenvolvido o guia?

Gilson – O guia dá as bases teóricas necessárias, e apresenta uma rotina de 40 passos a seguir, dos quais do 13º ao 30º é a rotina da confecção do manuscrito usada no curso. Cada um desses 18 passos de confecção do texto inclui: o que fazer (naquele passo); background (o que ler das bases teóricas presentes no início do livro); instruções básicas (breve resumo de cuidados a tomar para executar o passo (o que fazer); e dúvidas. Para este último item (dúvidas) há na metade final do livro uma lista de perguntas e respostas comumente presentes em cada um dos passos de escrita e conclusão do processo (passos do 13 ao 40). Esse sistema segue exatamente o curso prático: eu fraciono o processo todo em pequenas partes e, para cada uma, eu digo o que fazer, incluindo breve lembrança da teoria. Os alunos fazem e, em seguida, passamos ao esclarecimento das dúvidas; feito isso, vamos ao passo seguinte e assim sucessivamente durante 16 horas divididas em dois dias.

FAP – Quando foi o lançamento da publicação e onde?

Gilson – Eu geralmente não faço lançamentos formais de meus livros, apenas os anuncio em meus cursos e nas mídias que possuo. A livraria faz o restante. Ele começou a ser vendido em 17/8/2015 (a primeira edição está quase no fim – terão que reimprimir!). Fiz dois lançamentos formais, por gentilezas da USC-Bauru (SP) e do Mackenzie-São Paulo.

FAP – A publicação estará disponibilizada online?

Gilson – Todos os meus livros são impressos, embora vendidos online. Tenho projeto para transformar meus livros em e-books, mas ainda levará um tempo (espero que curto) para ser executado (mas não passa de 2017).

Quais são os principais facilitadores para escrever textos científicos publicáveis?

Sobre os facilitadores para a publicação em revistas de boa qualidade, eu diria: leiam regularmente artigos de revistas de alto nível em sua área ou mesmo em áreas correlatas (ao menos três desses artigos por semana); faça uma ciência compatível com os discursos publicados nas revistas em que pretende entrar (melhor a revista, melhor o nível da ciência a ser praticada – há exceções, mas geralmente é assim); ciência forte tem toda chance de entrar nas melhores revistas); na carta de encaminhamento do artigo, mostre a qualidade de suas novidades e porque elas devem ser de interesse para aquela revista; escreva dentro do estilo científico, sendo objetivo, sólido e não apelativo; escreva pensando num leitor de área correlata à sua (o especialista certamente lerá seu artigo. Mas a ciência é, por natureza, interdisciplinar, de forma que muitas outras pessoas poderão usar seus achados, mesmo que você não veja essa possibilidade).

Muitos pesquisadores brasileiros costumam buscar a iniciativa da fresta, aquela brecha não científica que talvez facilite o percurso da publicação. Eu digo, não caia nessa falácia. Mesmo que chegue a funcionar em alguns casos, apenas atesta a incompetência e o oportunismo político do autor. Nunca fiz isso em minha carreira que, embora não tenha sido brilhante, foi honesta, segura e competente. Percebemos tais desvios em perguntas como: “se eu publicar sempre numa mesma revista facilita minha aceitação para os próximos artigos?”; “se trouxermos editores de revistas de boa qualidade para nos falar sobre redação científica eles nos darão os caminhos específicos de como entrar nessas revistas?”, ou “nossa amizade com eles pode ajudar alguma coisa?”. Eu aconselho: ciência séria leva a publicação séria, mesmo que algumas injustiças possam ocorrer e uma ciência de boa qualidade possa ser rejeitada. Cabe ao cientista descobrir novidades e também conseguir a aceitação dessa novidade pela comunidade científica. Essas são tarefas do cientista.

FAP  O guia é ilustrado? Qual foi o material usado para sua confecção?

Gilson – O guia não é tão ilustrado quanto o livro do método lógico de 2011 (este foi composto de 147 pranchas e explicações numa sequência coerente). O guia é primordialmente de textos, mas tem algumas figuras e tabelas para exposição de alguns conceitos mais complexos, além de arranjos de layout que facilitam a compreensão. Ele é simples de ser seguido e profundo para se tornar entendido.

O material usado vem da literatura de bom nível, mas é restrito aos principais conceitos, sendo que minha parte é fazer a releitura dessa literatura no contexto da redação científica, bem como apresentar analogias e conceitos próprios aplicáveis em cada caso. Usei também minha experiência na área. Além disso, a editora deu tratamento de alta qualidade à obra, zelando pela revisão do texto (ao menos duas empresas revisaram a redação) e colocando o livro num layout moderno e ousado, bem como contando com uma gráfica de alto padrão (do grupo Pancrom).

FAP   –   Onde o guia pode ser comprado?

Gilson – Ele fica exclusivamente na www.bestwriting.com.br, embora algumas livrarias comprem por lá e revendam (mas como é compra de livraria para livraria, então o preço não deve ser competitivo). Ele está apenas na versão impressa e as vendas são pela internet.

 FAP – O senhor tem publicados outros livros do gênero. Quais são?

Gilson Volpato GL. 2013. “Ciência: da filosofia à publicação”. 6ª ed. Cultura Acadêmica Editora (selo da Editora Unesp). Primeiro livro dele, publicado em 1998,

Volpato GL. 2008. “Publicação Científica”. 3ª ed. Cultura Acadêmica Editora (selo da Editora Unesp).

Volpato GL. 2010. “Dicas para Redação Científica”. 3ª ed. Cultura Acadêmica Editora (selo da Editora Unesp).

Volpato GL. 2007. “Bases Teóricas para Redação Científica… por que seu artigo foi negado?” Cultura Acadêmica Editora (selo da Editora Unesp).

Volpato GL. 2009. “Administração da Vida Científica”. Cultura Acadêmica Editora (selo da Editora Unesp).

Volpato GL. 2010. “Pérolas da Redação Científica”. Cultura Acadêmica Editora (selo da Editora Unesp).

Volpato GL. 2011. “Método Lógico para Redação Científica”. Best Writing.

Volpato GL & Barreto RE. 2011. “Estatística Sem Dor!!!” Best Writing.

Volpato GL, Barreto RE, Ueno HM, Volpato ESN, Giaquinto P, Gonçalves-de-Freitas E. 2013. “Dicionário Crítico para Redação Científica”. Best Writing.

Volpato GL & Barreto RE. 2014. “Elabore Projetos Científicos Competitivos”. Best Writing.