Única produtora no Brasil da vacina BCG contra a tuberculose, a Fundação Ataulpho de Paiva (FAP), em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, tem como filosofia, desde a época em que era Liga Brasileira Contra a Tuberculose, realizar trabalhos de cunho social para conscientização em relação à enfermidade. Dissemina conteúdo informativo e educativo nos campos científico e prático sobre o assunto na internet, com técnicas acuradas de design gráfico e textos que procuram elucidar as melhores formas de se precaver da tuberculose e esclarecer os meios para combatê-la. Além disso, atua na comunidade de Vila Rosário, em Duque de Caxias, e na Ilha de Paquetá no Preventório Rainha Dona Amélia.
Entre os principais focos estão a importância da vacinação com BCG nos primeiros dias de vida e os fatores associados ao abandono do tratamento de tuberculose, que acarreta elevado aumento da incidência da doença: nove em cada cem pacientes que iniciam o tratamento não o levam até o fim, segundo o Ministério da Saúde. O máximo tolerável, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é quase a metade disso: cinco em cada cem.
Por isso a FAP expõe os dez motivos para não interromper o tratamento da tuberculose, a fim de evitar que as cepas da doença fiquem mais fortes, resistentes e se multipliquem, ocasionando a tuberculose multirresistente. Geralmente o tratamento dura seis meses, mas a retomada dele após o abandono prolonga-o em mais de 18 meses e, em muitos casos, significa a própria sentença de morte. O abandono de tratamento tem sido um dos principais entraves para o compromisso assumido pelo Ministério da Saúde de reduzir em 95% os óbitos e em 90% o coeficiente de incidência da tuberculose até 2035.
Além da tuberculose pulmonar, mais conhecida do público, existem outras manifestações clínicas extrapulmonares. A FAP explica que a forma pulmonar desencadeia as demais, pois o Mycobacterium tuberculosis – bacilo de Koch – pode sair do pulmão ou pulmões e entrar na corrente sanguínea, indo, principalmente, a lugares do corpo com mais oxigenação.
Vários aparelhos e sistemas podem ficar comprometidos pela tuberculose, com prevalência das formas pulmonares (85%) nos países onde mais ocorre, tanto primárias como pós-primárias. O contágio acontece quando a pessoa encontra-se com o organismo fragilizado e inala gotículas espalhadas pelo ar provenientes de enfermos, geralmente por meio de tosse, espirro e fala, pela grande quantidade de bacilos de Koch.
Desde 1927, por meio da Liga Brasileira Contra a Tuberculose, atual Fundação Ataulpho de Paiva, desenvolve a vacina BCG, cuja aplicação é gratuita e indicada, na maioria dos casos, logo após o nascimento, de preferência na própria maternidade. O medicamento atua, com eficácia reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), contra a tuberculose e tem acesso gratuito por meio do Ministério da Saúde.
Criada em 4 de agosto de 1900, a Liga iniciou seu trabalho com programa de ação voltado para a propaganda preventiva ou profilática contra o contágio da tuberculose, fundação de estabelecimentos especiais ou sanatórios para a cura sistemática da moléstia no primeiro período e a fundação de hospitais especiais para isolamento e tratamento dos tísicos adiantados. Em 30 de dezembro de 1930, inaugurou o laboratório de preparo do BCG, que até então era fornecido pelo Instituto Vital Brasil.
A Liga inaugurou em 24 de maio de 1927 o Preventório Rainha Dona Amélia, na Ilha de Paquetá, que isolava os filhos de portadores da doença até o final da década de 40, algo não mais necessário após a introdução de antibióticos para tratamento da doença. Mantido pela FAP, depois passou a atender crianças de vários bairros do Rio de Janeiro, funcionando como internato até 2004, e atualmente cuida de 123 crianças, de 2 a 11 anos, em regime de creche de tempo integral.
Outro trabalho social da FAP é o de Vila Rosário Criado, desenvolvido com o Programa de Química Fina para o Combate a Doenças Tropicais (Qtrop), em Duque de Caxias, para o controle da tuberculose. A fase de campo teve início no bairro de Vila Rosário, 2º distrito de Duque de Caxias, em 2000. Com esse trabalho, o número de casos de tuberculose no local baixou para cerca de 50 casos/100mil habitantes, perto da média nacional, porém, bem inferior à média do município de Duque de Caxias (80 casos /100 mil habitantes).
A evolução do trabalho desenvolvido pela FAP junto com o Qtrop resultou na criação em 2010do Instituto Vila Rosário (IVR), instituição não governamental, sem fins lucrativos, mantida pela fundação. Um grupo de cientistas de diferentes universidades e fundações de pesquisa intervém em Vila Rosário usando técnicas e ideias derivadas da ciência e tecnologia. As causas trabalhadas são ligadas à chamada Cadeia de Miséria: doença, fome, baixa renda, carência de educação e cultura inadequada. O método usado pelo grupo do IVR é baseado na cooperação junto a pessoas que moram na área, inclusive com o aproveitamento do trabalho de mulheres como agentes comunitárias de saúde.