Quanto mais idade, menor fica a capacidade imunológica de defesa do organismo humano. Por isso mesmo a tuberculose tem mais probabilidades de incidência em pessoas idosas tanto nas novas infecções quanto na reativação de doença. Entre os fatores principais para que ocorra figuram os biológicos e socioeconômicos, com maior propensão aos casos pulmonares (83%). É também a etapa da vida na qual ocorrem mais diagnósticos das formas extrapulmonares da enfermidade (17%), sobretudo miliar, meningite tuberculosa, tuberculose geniturinária e tuberculose esquelética. A doença torna-se mais complicada nessa etapa da vida pelas dificuldades de diagnóstico e no uso de remédios, tendo ocorrência maior antes de iniciada a quimioterapia antituberculose.
As atenções da Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto à tuberculose na terceira idade aumentam bastante na medida em que cresce no mundo de maneira acelerada a população de terceira idade. Um dos mais recentes dados sobre isso se encontra no relatório “Envelhecimento no Século 21: Celebração e Desafio” do Fundo de População das Nações (UNFPA), organismo da ONU responsável por questões populacionais, e da ONG inglesa HelpAge International, com afiliadas em mais de cem países, que auxilia pessoas idosas e reivindica os direitos delas. De acordo com o documento de 2012, as estimativas para 2050 indicam população idosa mundial acima de um bilhão de pessoas. O Brasil deverá ser o nono país com mais idosos (22,5% de sua população), segundo previsão da organização privada Pew Research Center, dos EUA, feita em 2014.
Geralmente a tuberculose nos idosos acontece vagarosa, silenciosa e com mínimos sintomas respiratórios, e até os clássicos indicadores clínicos tendem a não existir, como febre vespertina, tosse produtiva, suor à noite, dores torácicas, perda de peso e expulsão de sangue dos pulmões. Há mais tendência para acontecerem febre baixa, cansaço crônico que dificulta ações, déficits de memória e cognitivos, anorexia progressiva e dispneia associada a outros agravos de saúde. Aliás, tem forte inclinação a maiores transtornos nos casos de HIV, desnutrição, diabetes, insuficiência hepática, insuficiência renal, terapia demorada com corticosteroides e malignidade.
Descoberta de bacilo
Exames baciloscópicos diretos do escarro, que possibilitam a descoberta das fontes de infecção de tuberculose pulmonar e laríngea de modo mais eficaz, nem sempre podem ser aplicados em idosos. Isso porque a coleta de material fica impossibilitada com o não expelir de catarro suficiente pelos longevos e imperfeições no Sistema de Transporte Mucociliar – mecanismo de eficiência contra as infecções pulmonares cuja principal função é a remoção de partículas ou substâncias potencialmente agressivas ao trato respiratório. Mas isso não pode servir de motivo para a não realização de exame na maioria dos possíveis portadores de tuberculose em idade avançada, pois métodos invasivos como a fibrobroncoscopia ou broncoscopia – exame realizado por meio de aparelho com fibras óticas para a visualização interna do sistema respiratório – são opções para detectar a presença do bacilo de Koch – bactéria causadora da tuberculose – em número significativo de idosos.
Alterações na saúde características das pessoas na terceira idade podem motivar abandono de tratamento por más reações à utilização de medicamentos e, consequentemente, tornam mais fortes e resistentes as cepas da tuberculose, que se multiplicam e resultam na tuberculose multirresistente. Entre as quais, as metabólicas, morfológicas e a homeostase – processo de autorregulação no qual sistemas biológicos tendem a manter sua estabilidade para se ajustarem a condições ótimas de sobrevivência. O tratamento necessita de um ajuste de dose para os idosos, devido aos efeitos colaterais e a maior prevalência de hepatopatia e nefropatia nesta faixa etária. Feito de maneira adequada à base de combinação de antibióticos durante, em média, seis meses, o prognóstico de cura no idoso vai de 90% a 95%.