Com a disseminação no mundo das MDR (cepa multidroga resistente) e XDR (cepa extremamente resistente), ressoam ainda mais fortes os alarmes em relação ao mal causado pela automedicação de portadores de tuberculose. Desesperados pelos sintomas da enfermidade e iludidos por soluções medicamentosas mágicas apresentadas em massa principalmente na internet como “remédios caseiros para curar a tuberculose”, muitos tísicos apelam para isso, a ponto de mobilizar especialistas em saúde a fim de conscientizar sobre o problema que podem gerar. Tais soluções no máximo podem servir como paliativas para amenizar os sofrimentos, mas na grande maioria dos casos surtem na maior resistência do bacilo Mycobacterium tuberculosis, causador da enfermidade. A tuberculose resistente a múltiplas drogas teve em torno de 480 mil novos casos só em 2014, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Existe uma cultura na população em geral de procurar os serviços de saúde apenas quando se passa mal e, no caso da tuberculose, de ir direto para o hospital porque a insuficiência respiratória e as dores tornam-se insuportáveis. Ao passarem seus históricos nos atendimentos, os pacientes geralmente mencionam os remédios caseiros, alguns naturais e outros repletos de componentes químicos. No Brasil, famílias mais vulneráveis socialmente alegam, sobretudo, que o acesso a esses produtos é mais fácil e barato, e desconhecem a possibilidade de obter antibióticos no SUS para tratamento a partir do diagnóstico médico.
Muitas vezes os pacientes abandonam o tratamento ao optar pelas fórmulas caseiras. Na província de Bié, em Angola, com cerca 1,8 milhão de habitantes, esse foi um dos motivos para o governo local realizar, em 2013, intensa campanha contra a automedicação de portadores de tuberculose. À época, dos 455 casos da doença, 37 consistiam em retratamentos, a maioria após processo de automedicação, mesmo com tratamento gratuito e a distribuição suficiente de medicamentos nos hospitais e centros de saúde. Na campanha angolana, enfatizou-se a ideia de que o abandono ou tratamento mal feito geram mais resistência da bactéria da tuberculose.
Os riscos dos xaropes
Como um dos sintomas clássicos da tuberculose consiste na tosse seca persistente por três semanas ou mais, muitas vezes o doente procura apoio nos xaropes, que podem trazer efeitos colaterais de grande impacto. Entre os quais, diminuição no fluxo respiratório, reações alérgicas e até problemas cardíacos. Alguns xaropes têm corticoides e broncodilatadores na fórmula, corantes, aromatizantes, solução hipertônica de açúcar e substâncias que atuam no sistema nervoso para deter o reflexo da tosse. Esses medicamentos só devem ter consumo com indicação médica.
O tratamento de tuberculose jamais deve ser interrompido e se dá pela combinação de antibióticos durante aproximadamente seis meses nos casos mais comuns. Como efeitos colaterais, o paciente pode sentir enjoos, vômitos, indisposição e mal-estar geral, mas isso não pode servir de motivo para parar. A interrupção pode significar a própria sentença de morte e causar maiores riscos a quem está próximo, porque favorece o surgimento do germe multirresistente.