Exigências higienistas aliadas a indicações médicas sobre benefícios dos fatores climáticos e geográficos levaram, no início do século 20, muitos portadores de tuberculose a se mudarem para lugares mais altos e cercados por natureza em várias partes do mundo. Entre as certezas da época estava a ideia de o ar rarefeito impossibilitar a multiplicação do bacilo de Koch, causador da doença, localizado no ápice dos pulmões e que encontra nos alvéolos mais oxigênio. Mas a concentração de pessoas em um mesmo local, principalmente nos sanatórios criados, tornava o quadro epidêmico muito pior. Hoje, existe a convicção de que não se trata a doença em ambientes fechados e longe do convívio social.
Campos de Jordão, localizado em São Paulo na Serra da Mantiqueira a 1.628 metros de altitude, recebeu grande quantidade de pessoas com tuberculose nas décadas de 20 e 30. A altura, o afastamento dos grandes centros urbanos e as virtudes terapêuticas do clima, caracterizadas pela secura e pureza do ar, rarefação da atmosfera, favorecimento à ventilação pulmonar e intensidade de radiação solar até no inverno, figuravam como principais atrativos da busca pela cura. Paralelamente, testes laboratoriais em cobaias apontavam para a maior facilidade de procriação do bacilo de Koch em ambientes fechados do que em ambientes ao ar livre.
À época, na Europa havia o mesmo processo de migração de pessoas com a doença para as regiões suíças montanhosas. Por isso, Campos de Jordão passou a ser conhecido como a “Suíça brasileira”. Até uma estrada de ferro, a Campos do Jordão, foi criada nos anos 1910 para transportar pacientes com tuberculose.
O Estado, sobretudo em grandes centros urbanos como Rio de Janeiro e São Paulo, via na tuberculose ameaça à própria organização, e daí optou por acabar com pobres habitações e destinar os doentes para sanatórios bem distantes.
Interessada em desfrutar de Campos de Jordão como lugar para descanso nos fins de semana, a elite paulistana mandou construir uma série de sanatórios para isolar pessoas com tuberculose. Até que a situação se tornou insustentável com falta de recursos oriundos dos poderes constituídos municipais, estaduais e federais. Campos de Jordão se transformou num ‘depósito’ de pessoas com a doença, a ponto de resultar em troca mais intensa de bacilos e, consequentemente, na resistência dele por estarem em um mesmo lugar.
Estância turística
No início dos anos 50 com as perspectivas de tratamento da tuberculose mais eficazes por meio de antibióticos, o isolamento já não era mais opção. Então passou a se configurar o destino de Campos de Jordão como estância turística e não de saúde, a começar pela ‘febre’ de jogar provocada pelos cassinos que tomaram conta da cidade e por banquetes da aristocracia. Além disso, a Companhia de Melhoramentos de Campos de Jordão fez, a partir do final da década de 30, várias obras de benfeitoria e embelezamento da estância, cujas realizações passaram a atrair cada vez mais pessoas.
Há mais de 60 anos Campos de Jordão, o município mais alto do Brasil, está entre os lugares mais procurados do turismo nacional. Na temporada de inverno, recebe em torno de dois milhões de turistas. A cidade deixou longe na memória seu passado de estância de saúde.