O Serviço de Assistência Domiciliária foi criado pela Liga Brasileira de Combate à Tuberculose, atual Fundação Ataulpho de Paiva (FAP), no início do século passado para proporcionar cuidados médicos em casa a pessoas em estado adiantado de tuberculose e sem condições de ir aos dispensários. As ações visavam principalmente descobertas, através de agentes, de focos de contágio tuberculoso para diminuí-los ou saneá-los, a disponibilidade de remédios e alimentação, a remoção para hospitais e a desinfecção dos locais onde os doentes moravam. Atualmente, o Instituto Vila do Rosário, mantido pela FAP, realiza trabalho semelhante no município de Duque de Caxias.
À época da criação do serviço, o então presidente da Liga e desembargador, Ataulpho de Paiva, lembrou o quanto esse correspondia aos anseios do governo federal para levar adiante programa de luta contra a doença. O próprio Paiva assumiu a direção do Serviço, no qual ficou até 8 de março de 1915, substituído pelo médico Garfield de Almeida, que atuava também como chefe de Serviço Clínico. Todos os esforços foram empregados para atender as solicitações feitas por telefone para pronto atendimento no mesmo dia, inicialmente na região da freguesia de Santana, com resultados bastante positivos. A ponto de ocorrer a necessária ampliação do serviço para todo o Distrito Federal e consequente aumento de gastos com medicamentos. A instituição apelou para a ajuda de farmacêuticos e associações de caridade. Obteve total apoio.
No final do segundo ano de funcionamento do Serviço, sua importância estava plenamente justificada, como evidenciou Almeida. Para ele, “a assistência a domicílio representava um recurso valiosíssimo no combate à tuberculose, insulando o doente no domicílio, evitando-lhe fortes desperdícios de energia e vitalidade e restringindo a perambulação de uma permanente fonte de contágio disseminando, com uma prodigalidade espantosa, o germe que lhe corrói impiedosamente a existência”.
Mas tudo começaria a mudar logo após a instalação do governo de Epitácio Pessoa, com a transformação, em 1920, da Diretoria Geral de Saúde Pública em Departamento Nacional de Saúde Pública, que passou a ter a Inspetoria de Profilaxia da Tuberculose para liderar a luta contra a doença. Gradativamente, a Liga passou a priorizar a proteção das crianças, o que deu margem à criação do Preventório Dona Amélia e ao Serviço de Prevenção pelo BCG, embora tenha mantido dispensários e a assistência domiciliária. Essa, no entanto, acabou em 30 de janeiro de 1929.
Vila do Rosário
Um projeto social realizado, há 15 anos, pela FAP, que o patrocina, em parceria com o Instituto Vila do Rosário revive na chamada Grande Vila Rosário, município de Duque de Caxias, o antigo Serviço de Assistência Domiciliária. Tem como grande diferencial um trabalho mais aprimorado de prevenção e conscientização com visitas domicílio a domicílio, por meio de agentes de saúde. A operação concentra-se na identificação das condições socioeconômicas, na busca ativa de casos, no acesso a medicamentos, no tratamento e monitoramento para que não haja interrupção e muita informação. Em torno de 42 mil pessoas são beneficiadas, com a redução de casos da doença de 196 / 100 mil habitantes para 40/100 mil.
Prática histórica
Há informações de que na terceira dinastia do Egito Antigo (século 13 a.C.) já ocorria atendimento médico domiciliar, inclusive para o Faraó num palácio. Na Grécia Antiga, um médico atendia na residência dos pacientes e seus seguidores em templos, onde havia medicamentos e materiais especiais para cura. No continente americano, tal prática já acontecia em 1780 e na Europa no final do século 18. A partir da medicina científica, no século 19, as pessoas doentes tornam-se pacientes, cujo principal destino para convalescerem são os hospitais.
A carência de leitos em hospitais, os riscos de infecções hospitalares, os altos custos das internações, o aumento do número de pessoas idosas e de doenças crônico-degenerativas e o aconchego de casa seriam motivos suficientes para a opção pelo atendimento domiciliar em alguns casos, mas essa não é uma tendência em alguns países como o Brasil, onde o modelo de atenção à saúde predominante está centrado no hospital e saber médico.