Recentes pesquisas com o BCG Moreau Rio de Janeiro
Desenvolvida nos anos 20 do século passado, a vacina contra a tuberculose (BCG) é eficiente até hoje, mas há projetos de aperfeiçoamento para torná-la ainda mais efetiva e segura. As vacinas têm como objetivo fundamental a imunização prévia do indivíduo contra a infecção, para que seu organismo possa responder de forma rápida e eficiente ao primeiro contato com o agente infeccioso, evitando assim a ocorrência ou desenvolvimento da doença.
Com o aumento da incidência da tuberculose no mundo, a partir do início dos anos 90 do século XX, associado ao aparecimento da Sindrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras entidades internacionais incentivaram o desenvolvimento de novas vacinas contra a tuberculose. No entanto, estudos subsequentes mostraram que seria mais interessante desenvolver novas vacinas a partir das estirpes de BCG existentes ou do próprio Mycobacterium tuberculosis.
A diretoria da FAP, então, notou que estudos que pudessem “atualizar” a vacina brasileira eram fundamentais para o desenvolvimento tecnológico e controle da qualidade da fabricação e distribuição. Outras estirpes de BCG estavam sendo usadas no exterior para tratamento do câncer superficial de bexiga, com resultados superiores aos quimioterápicos. Com isto, a Fundação desenvolveu um projeto para modernizar a vacina, de acordo com as premissas da OMS.
Excelência que gera resultados práticos
Como resultados deste projeto, a Fundação colocou no mercado o ”Imuno BCG” (projeto financiado pela Finep), que se tornou o principal medicamento para tratamento do câncer superficial de bexiga no país. O projeto teve resultados excelentes, o que resultou em prestígio para a Fundação. Outra vantagem foi conhecer melhor a estirpe e a vacina BCG Moreau Rio de Janeiro e, consequentemente, certificá-las pela OMS, além de participar do comitê internacional que regula as vacinas BCG.
A FAP também descreveu o proteoma – conjunto de proteínas e variantes de proteínas que podem ser encontrados numa célula específica – e o genoma do BCG Moreau Rio de Janeiro (projeto financiado e realizado pela FAP e a Fiocruz).
A Fundação participou do projeto de desenvolvimento de novas vacinas a partir do BCG Moreau Rio de Janeiro, que faz parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Tuberculose no Brasil (financiamento Ministério da Ciência e da Tecnologia e CNPq) e de estudos de BCG com a comunidade econômica europeia (financiamento CEE e Wellcome Trust).
Prestígio desde as primeiras pesquisas com o BCG
O Bacilo de Calmette e Guerin (BCG) foi derivado de Mycobacterium bovis que, naturalmente, infecta o homem através do trato gastrointestinal – geralmente através do leite contaminado. Assim, a rota original de vacinação empregada pelo pesquisador Albert Calmette foi a via oral. Após o desenvolvimento da estirpe, a partir de 1920, Calmette enviou amostras para laboratórios ao redor do mundo. Os cultivos subseqüentes e passagens do BCG original levaram à modificação nas propriedades dos BCGs cultivados em diferentes países. O genoma e o proteoma de diferentes tipos não haviam sido estudados até o inicio deste milênio, quando quatro estirpes eram consideradas como as mais importantes: a da Dinamarca, da Rússia, do Japão (Tóquio) e a Moreau Rio de Janeiro.
Com a chegada de Arlindo de Assis, em 1927, a FAP iniciou pesquisas no Brasil e no exterior. Em 1927, já na Liga Brasileira contra a Tuberculose (atual Fundação Ataulpho de Paiva), Assis realizou a primeira imunização com o BCG no Brasil. O pesquisador foi um dos mais renomados pesquisadores na área de vacinas contra a tuberculose e publicou dezenas de trabalhos com novas metodologias de imunização com o BCG oral.
Parceria – Em novembro de 1973, foi inaugurado o Centro de Pesquisas, iniciando as atividades com pesquisas em cooperação com a Divisão de Imunopatologia da UFRJ, Hospital Clemente Falcão e a Santa Casa. Os projetos consistiam em estudar a imunidade celular dos doentes com tuberculose, investigar o porquê da cura ou não da doença, estudar o comportamento na cultura dos linfócitos dos vacinados para obter uma indicação da imunização, o estudo dos fracassos do ponto de vista terapêutico dos portadores de tuberculose e os motivos das possíveis falhas. A FAP também se dedicou aos estudos e pesquisas referentes ao câncer, doença de Chagas, Leishmaniose e influência dos radicais livres na saúde humana.
Em 1987, a instituição expandiu as atividades do Centro de Pesquisas, com a implementação de convênio com o Ministério da Saúde. Além de tumores malignos, doença de Chagas, leishmaniose, esquistossomose, tuberculose, aids e hemofilia, passou a pesquisar problemas de hanseníase, de infecções respiratórias agudas – incluindo pneumonias -, micoses sistêmicas de manifestação pulmonar e o câncer de pulmão.
Em 90, a FAP mantinha convênios com 12 Instituições voltadas ao desenvolvimento de pesquisas científicas, o que marcou o espaço do Centro de Pesquisas Arlindo de Assis no mundo científico. Em 05 de janeiro de 1994, foi inaugurado o Centro de Estudos Professor Antonio de Oliveira Lima, ratificando a instituição como um centro de referência para consultas. Estas atividades, de 1966 até 1999, foram realizadas pelos diretores científicos e professores Antonio de Oliveira Lima (um dos pais da Imunologia no Brasil), Milton Fontes Magarão (um dos grandes mestres da tisiologia brasileira) e Helion Póvoa (um dos maiores bioquímicos brasileiros e pioneiro da medicina ortomolecular no Brasil).