Há quem diga que a tuberculose está ligada a um passado. Terrível engano, já que o mal provocado pela Mycobacterium tuberculosis afeta mais de oito milhões de pessoas no mundo e mata mais de um milhão delas por ano. Desde 1900, quando ainda era a Liga Brasileira Contra a Tuberculose, a Fundação Ataulpho de Paiva, introdutora no Brasil da vacina BCG, alerta sobre certos aspectos que dificultam os avanços no país para acabar com a doença.
Signatário dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, aprovado em 2000 pela ONU e que tem entre seus objetivos a diminuição até 2015 de algumas doenças endêmicas, o Brasil enfrenta como um dos seus principais problemas a desinformação generalizada em relação à tuberculose e as condições precárias em que vive expressiva parte da população. São registrados inúmeros casos de pessoas com ou sem plenas condições de acesso à informação, como demora ou abandono de tratamento. Pelo fato da doença não se apresentar de forma intensa, alguns pacientes relaxam até começar a piorar, enquanto outros abandonam o tratamento, que dura em média seis meses.
Por vezes, o abandono ocorre nos 15 primeiros dias quando os pacientes param de ser transmissores da doença. Nos dois primeiros meses, muitos renunciam o tratamento por se sentirem bem, pela falta de paciência e determinação, por razões relacionadas à doença e ao próprio tratamento. Outros fatores estão relacionados ao alcoolismo, tabagismo, uso de drogas ilícitas, pela crença na cura através da fé, por problemas socioeconômicos, pela intolerância medicamentosa e demora. Todos deveriam saber que o desafio de tratar da tuberculose não é nenhum bicho de sete cabeças, a começar pelo fato de o tratamento ser governamental e gratuito, com controle por parte do Ministério da Saúde sobre os medicamentos ministrados. Além disso, o diagnóstico é rápido, o tratamento facilitado, através do uso de comprimidos com doses fixas combinadas e, de acordo com a recomendação da OMS, os agentes de saúde observam diretamente o uso dos medicamentos pelos pacientes.
Mesmo assim, os últimos dados sobre óbitos decorrentes da doença, divulgados em 2012, são bastante preocupantes: total de 4.406 óbitos, o correspondente a 2,3 óbitos para cada 100 mil habitantes. Em 2013, o país registrou 71.123 novos casos de tuberculose, taxa de incidência que ficou em 35,4 casos para cada 100 mil habitantes, queda de 20,3% em relação a 2003. Os números mostram que por mais avanços que a indústria farmacêutica e a medicina tenham e maior que seja a ação do governo na luta contra a tuberculose, é preciso a conscientização acentuada da população brasileira sobre a importância da prevenção precoce e da continuidade nos tratamentos.
A prevenção começa no primeiro mês de vida de uma criança com a BCG, que está no calendário de vacinação da rede pública, para imunizá-la contra a tuberculose e devem procurar serviço de saúde ao apresentar os seguintes sintomas: tosse prolongada por mais de três semanas geralmente com catarro amarelado, às vezes febre vespertina, suores noturnos, emagrecimento, perda de apetite e astenia. Também é fundamental o controle das pessoas que mantém contato mais íntimo com os doentes. Essas devem ser avaliadas sobre a necessidade de tratamento preventivo.
Os exames mais comuns são baciloscopia (exame do catarro) e radiografia do tórax e, caso constate-se a existência do mal, o tratamento deve ser levado adiante, pois caso contrário o bacilo de Kock poderá ficar resistente a medicações e o tempo de duração prolonga-se para 18 meses, os gastos públicos com medicação ficarão maiores, a doença estará agravada e, consequentemente, maior será o risco de vida pessoal e para a sociedade.