Nos atendimentos a pacientes com sequelas e alterações provenientes de tuberculose curada muitas vezes considera-se erroneamente o reaparecimento da doença, algo pouco difundido na literatura médica. Embora essas representem uma das patologias mais frequentes nas consultas de pneumologia, as estatísticas ficam limitadas a estudos esporádicos e específicos de determinados locais, existe muita dificuldade para esclarecimento dos profissionais de saúde sobre o problema e não se sabe no Brasil em quanto chegam os custos governamentais nos serviços de referência para atendimentos a tais casos.
As sequelas variam desde distúrbios combinados com poucas alterações funcionais até o distúrbio ventilatório obstrutivo, provavelmente o mais apontado e que têm muitas vezes gravíssimas consequências. Aliás, há diversos casos de sequelas tuberculosas que culminam em má qualidade de vida e de produção, no afastamento do trabalho e até mesmo em morte.
A maior probabilidade para que não haja sequelas em tuberculose é, segundo o Ministério da Saúde, a descoberta e o tratamento precoces dos casos, que também ajudam a reduzir a doença. As sequelas caracterizam-se por qualquer alteração anátomo-patológica ocorrida após o restabelecimento do doente e que carece de ação clínico-terapêutica, por vezes muitos anos depois.
O primeiro passo para não confundir sequela com recidiva é fazer histórico clínico detalhado para ajudar a classificar a doença. Para buscar a exatidão, deve se contar com diagnóstico por meio de imagens e exames clínicos, a fim de verificar se existem consolidações, cavitações, lindonodomegalias – aumento de volume de um ou mais linfonodos (gânglios linfáticos) – e derrame pleural. No caso da cintilografia, é possível detectar processos infecciosos principalmente em imunossuprimidos – pessoas com sistema imune em baixa atividade. Os exames de escarro para análise de culturas também podem auxiliar bastante para checar se existe a bactéria da tuberculose. A certeza de estar curadas após a alta em tuberculose engana muitas pessoas que ficaram com sequelas da enfermidade.
Pesquisa recente
Uma das poucas pesquisas realizadas no Brasil sobre o assunto e cujos resultados foram divulgados no final de agosto serve de alerta para mais cuidados em relação às sequelas pós-tuberculose. A professora e coordenadora da clínica de fisioterapia do Centro Universitário da Grande Dourados (Unigran), em Dourados, no Mato Grosso do Sul, Simone de Sousa Elias Nihues, conseguiu em sua pesquisa de mestrado que 161 pessoas submetidas a tratamentos bem sucedidos de tuberculose respondessem a questionários clínicos e fizessem espirometria – exame que mede a função pulmonar. Obteve essa quantidade com muita dificuldade devido ao sentimento de cura manifestado por inúmeras pessoas consultadas e consequentes negativas à participação.
A pesquisa, orientada pelo infectologista Júlio Croda, abrangeu a população indígena e não indígena de Dourados, a fim de que fosse feita comparação entre elas. A prevalência de sintomas respiratórios crônicos chegou a 45% e de distúrbios da função pulmonar a 41% em todo o universo pesquisado. Entre as sequelas mais comuns estavam a tosse, expectoração e dispneia, inclusive durante atividades físicas. Com base no estudo, médicos e equipe multidisciplinar adequaram tratamentos para aqueles que apresentaram alterações ou sequelas.